Efésios 3.14-21: INCOMPARÁVEL AMOR

Incomparável amor

Efésios 3.14-21

 

 


Localizada na Lídia, na costa ocidental da Ásia Menor, na embocadura do rio Caister, entre Mileto ao sul e Esmirna ao norte, Éfeso, província romana próspera e desenvolvida em sua época. 

 

Um dos seus orgulhos era o templo da deusa Diana que os gregos chamavam de Artemis e foi considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. Sua primeira construção foi destruída por incêndio ateado por Heróstrato no ano de 356 a.C. Para se ter ideia da sua magnitude, ao ser  reconstruído, era quatro vezes maior que o Partenão de Atenas. Segundo historiadores, o teto ou cobertura do templo, constava de grandes placas de mármore branco. Além de suas dimensões colossais sua ornamentação interna excedia a tudo quanto se possa imaginar em obras de arte de grandes pintores da época como Fídias, Praxiteles e Escopas. Não foi à toa que os efésios levantaram sua voz por quase duas horas em exaltação à sua padroeira: “Grande é a Diana dos efésios” conforme relato de Atos 19.34. No 280 de nossa era ele foi destruído pelos Godos. Foi nesta cidade que Paulo e outros colaboradores organizaram uma da sete igrejas da Ásia Menor mencionada por Jesus no livro do Apocalipse: “Tenho contra ti que deixaste o teu primeiro amor” (Apocalipse 2.4). 

O texto do capítulo três  da carta de Paulo aos Efésios é um texto de rara beleza. Não somente por sua profundidade teológica, mas especialmente, pelo seu conteúdo. Nele, Paulo faz uma oração pastoral ou intercessória em favor dos crentes de Éfeso, mas ao mesmo tempo, faz também a sua defesa em favor do seu ministério aos gentios. Diz ele: “Por essa razão, eu, Paulo, sou prisioneiro de Cristo Jesus por amor a vocês, gentios. Significando que, mediante o evangelho, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (3.1,6). É sempre bom recordarmos como a Igreja de Éfeso iniciou. O testemunho de Apolo, conhecedor profundo das Escrituras que após ser orientado e esclarecido com mais exatidão a cerca do evangelho pelos missionários Áquila e Priscila, que trabalharam com Paulo em Corinto, tornou-se um poderoso instrumento para evangelização daquela cidade (cf. Atos 18.24-26).

 

 

 

 

 

A consciência de sua missão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais tarde, em sua terceira viagem missionária, Paulo retorna à Éfeso e permanece ali por dois anos pregando nas sinagogas com grande autoridade, realizando curas extraordinárias e expulsando demônios, causando um verdadeiro reboliço na cidade, a ponto de haver muitas conversões de judeus e não judeus (gentios). Muitos que praticavam o ocultismo se converteram: “Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinquenta mil denários” (Atos 19.18-20).

 

 

 

 

 

 

Talvez recordando tudo aquilo que Deus já realizara, Paulo, por volta do ano 62-63 de nossa era, preso em Roma, envia uma epístola pelas mãos do seu amigo e colaborador Tíquico, e que embora pudesse ter servido de uma missiva circular para ser lida também nas demais igrejas da Ásia, como afirmam alguns, acaba sendo enviada com um carinho todo especial aos irmãos de Éfeso.

 

 

 

 

 

 

As orações do apóstolo
Paulo faz duas orações nessa carta. A primeira delas está no cap. 1.15-22, e a segunda, está no capítulo 3 a partir do verso 14. Quero me ater à segunda oração de Paulo. Nessa oração seu sentimento é uma demonstração de profundo amor e zelo por aqueles irmãos: “Por essa razão ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família nos céus e na terra” (v.1).

 

 

 

 

 

Quando Paulo orou pelos efésios, ele orou também por mim e por você, porque fazemos parte da família de Deus. Saber que alguém intercede por mim é algo que me sensibiliza profundamente. No capítulo 17 do evangelho de João, a mais de dois mil anos atrás, Jesus teve também a mesma atitude: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles. Para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.20-21). Saber que Jesus também intercedeu por mim é motivo de grande júbilo. O poder da oração transcende os limites da nossa imaginação. Pessoas há nas mais diversas partes do planeta orando em nosso favor, mesmo que isso não chegue ao nosso conhecimento e mesmo que elas não nos conheçam. Quando você também ora em favor de um povo, de uma nação, de um enfermo que não conhece, pelos missionários nos lugares mais distantes, está cumprindo um propósito de Deus: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a oração do justo” (Tiago 5.16).

 

 

 

 

Paulo se põe de joelhos em favor dos crentes de Éfeso para que sejam fortalecidos em sua fé. As orações dos judeus eram tradicionalmente feitas em pé. Os fariseus tinham por hábito ficar em lugares estratégicos como nas esquinas e nas praças, e oravam em pé, para que pudessem ser vistos por quem passava (cf. Mateus 6.5). Mas a  atitude de Paulo, sem dúvida, é uma clara demonstração de humildade ali naquela prisão, revelando a sua imensa consideração e amor por aqueles irmãos: “Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito” (v.16).  Saber que alguém se põe de joelhos em meu favor para que a minha fé seja fortalecida é algo muito gratificante. Lembre-se que quando você se sente enfraquecido, desencorajado, talvez alguém, em algum lugar, esteja orando por você. Paulo expressa na sua oração a dimensão do amor de Deus. Primeiramente,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

a)  Um amor incomparável

 

 

 

 

 

 

 

Nos versos 17 a 19, ele fala da dimensão do amor de Deus, que em Cristo, excede todo entendimento: “… e oro para que, estando arraigados e alicerçados em amor, vocês possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo que excede todo o entendimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus”. Mas a oração de Paulo revela outras preciosidades. Por exemplo, ele nos fala sobre a compreensão desse amor. Muito mais do que tentar compreender a dimensão desse amor, o que realmente precisamos, a cada dia, é experimentar a dimensão desse amor. Quem consegue compreender a largura, comprimento, altura e profundidade desse amor? Experimentar é diferente de compreender. Há coisas em nossa vida que são compreensíveis. Outras não. Como compreender, por exemplo, uma doença no seio da família, a perda de uma pessoa querida, o abandono do lar por um membro da família? Muitas vezes aceitamos essas situações, mas não as  compreendemos. Entretanto, experimentar o amor de Deus é diferente. Talvez por essa razão, Paulo estivesse querendo dizer àqueles irmãos, que na medida em que nos deixamos envolver por ele, nós vamos nos tornando mais plenos de Deus em nossas vidas. Escrevendo aos Coríntios, ele afirma: “Porque o amor de Cristo nos constrange” (2Coríntios 5.14).  Não se consegue explicar o amor de Deus. Mas podemos experimentá-lo. Em segundo lugar, na sua oração, Paulo nos fala de:

 

 

 

 

 

b) Um amor capaz de se doar por nós

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No final da sua oração, Paulo faz uma declaração e uma exaltação: “Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre, Amém” (v.20-21). Sempre que leio esses versos me vem à mente a plenitude do poder de Deus. Porque há situações que  são visíveis aos nossos olhos humanos, em que vemos claramente a ação de Deus sobre as nossas vidas quando lhe pedimos algo. Todavia, há situações que são totalmente imperceptíveis, porque elas transcendem o campo físico/humano em que vivemos. Deus nos ama de tal forma que é capaz de atuar nesse campo da nossa vida que nem sequer pensamos. Escrevendo sua carta aos Romanos, Paulo diz o seguinte: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). A nossa incredulidade é que acaba impondo limites a esse amor, pois achamos que Deus não nos ama o suficiente quando estamos enfrentando adversidades. Nas palavras de Paulo em sua oração, o amor de Deus revelado na pessoa do Filho “excede todo o entendimento” (v.19), o que nos mostra que o seu cuidado é permanente mesmo que não estejamos conscientes. Esse incomparável amor nos revela que ele se interessa por cada um de nós. Deus  continua e continuará agindo muito além das nossas expectativas.  

 

 

 

 

 

 


 

 

Conclusão

 

Paulo termina a sua oração com uma recomendação aos crentes de Éfeso: que toda glória e toda a honra sejam dadas ao Senhor: “A ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!” (v.21). Glória, que segundo ele, precisa se manifestar tanto na Igreja, que é o corpo vivo de Cristo aqui na terra, como também na pessoa de Jesus Cristo. O salmista declara no salmo 96.6 “Glória e majestade estão ante a sua face, força e formosura no seu santuário”. O Senhor nos diz que não abre mão da glória que lhe é devida. Quando deixamos de dar a glória que é devida a Deus estamos transferido-a para outrem: “Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem” (Isaías 42.8). Glorificamos a Deus em Cristo Jesus com a nossa conduta, com o nosso compromisso de honrá-lo através do nosso testemunho, com os nossos lábios santificados. Glória esta que precisa se manifestar em nossas vidas em todas os momentos, pois o Senhor é capaz de  fazer por nós muito além do que pedimos ou pensamos. O incomparável amor de Deus deve, portanto, nos motivar a glorificá-lo no seu santuário, em nossas vidas, por todas as gerações e para todo sempre!

 

 José Mauricio Cunha do Amaral

 

 

 

 

 

 

 

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