Filipenses 4.10-20: CHEIROS (1)

CHEIROS 1
Filipenses 4.10-20

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 5.7.1999 – manhã

1. INTRODUÇÃO
O problema do silencioso conflito entre a teologia cristã (conjunto de crenças acerca do modo como Deus age) e a vida cristã (um conjunto de ações que Deus nos inspira a tomar).
Muitos de nós podemos ficar no primeiro nível, que é insatisfatório. No entanto, Deus espera de nós que alcancemos também o segundo nível. Quando isto acontece conosco, nossas ações se tornam, segundo o apóstolo Paulo, em cheiros suaves para Deus.
Suas recomendações finais aos filipenses nos ajudam neste itinerário, que vamos considerar versículo por versículo.

2. Aprendamos a ir da intenção à ação (v. 10).
. alegrei-me —  A alegria é um estilo de vida; aliás, ela deve ser o estilo de vida do cristão. A falta de regozijo é um sintoma de um estilo perigoso de vida. A falta de regozijo indica um conceito errôneo do significado da vitória de Cristo. Nós já triunfamos porque Cristo triunfou. Por isto, nos alegramos.
. provou — Nosso cuidado é a prova do cuidado de Deus para com os outros. Por isto, quando tivermos oportunidade de fazer o bem, façamo-lo. Estas provas podemos dá-las por meio da igreja ou diretamente, seja através do trabalho, da contribuição financeira ou do afeto.
Como é bom ouvir: “em que posso ajudar no trabalho da igreja”; quem fala assim descobriu o sentido da vida cristã; não vegeta mais.
Como é triste ver pessoas que são capazes de cantar, são capazes até de evangelizar, mas são incapazes de colocar a mão no bolso ou na bolsa, colocando seus recursos para o bem de todos. Essas pessoas vivem um evangelho incompleto, um evangelho para si mesmo; nunca poderão alcançar pessoas distantes por meio de uma oferta missionária ou do plano cooperativo; nunca poderão ajudar a igreja a distribuir cestas básicas entre as pessoas boas da Tijuca.
Como é desagradável perceber pessoas, mesmo na igreja, incapazes de perceber o gesto de aproximação, o sorriso de convite do outro, como se vivessem em casulos.
. faltou oportunidade — Paulo mesmo não deu oportunidade que os filipenses lhe fizessem bem, temendo que  o dinheiro pudesse servir de empecilho (e como é para alguns…) Ademais, Paulo mostra que não devemos imaginar que vivemos para ser acariciados, como se fôssemos crianças. Devemos pedir quando realmente precisamos. Há pessoas, no entanto, tão carentes que chegam a criar necessidades para serem acariciados.

3. Não esperemos precisar para mudar nossas perspectivas (vv. 11-12).
. por necessidade — Quando nós precisamos, mudamos nossa maneira de ver as coisas. Quando um parente nosso fica doente, percebemos se os irmãos ligam para nós ou não e passamos até a dar a importância à oração intercessória. Quando enfrentamos o desemprego, percebemos se os irmãos se mobilizam ou não para nos ajudar. Quando ficamos deprimidos, sentimos falta do companheirismo e da amizade.
Que não precisemos sofrer para desenvolver uma teologia correta acerca do modo de agir de Deus. Antes, como Paulo, aprendemos a nos contentar com a nossa vida, no sentido positivo do contentamento. Não fazemos mais porque não nos contentamos com o que temos. Somos ambiciosos demais para compartilhar aquilo que temos. No entanto, lembremo-nos que não é o que temos que nos faz felizes, mas a dependência de Deus (Fp 4.6).
. estou instruído — A vida é uma aprendizagem. Paulo tomou as experiências da vida e se aperfeiçoou na arte de viver, entendo que a escassez não é para sempre, assim como a abundância não o é. Nem todos sabemos viver felizes, como Paulo, na escassez de felicidade.
. posso — Este estilo de vida paulino derivava de sua confiança em Deus, certo de que Ele lhe fortaleceria. Sua força era sua dependência de Deus (2Co 12.10b). Sócrates disse que a verdadeira riqueza de uma pessoa é a sua alegria. Nós sabemos que a alegria do Senhor é a nossa força (Ne 8.10b).

4. Aprendamos a compartilhar da aflição do próximo (vv. 14-15).
. fizeste bem — Compartilhar da aflição do outro é ajudar. Compartilhar da aflição do outro é também ser ajudado. Como é bom ajudar.
. nenhuma igreja — A maioria das pessoas ainda se comporta como a maioria das igrejas contemporâneas do apóstolo: não descobriu como é bom ajudar.
. dar e receber — A vida pode ser pensada como um livro de débito/crédito. Nossa vida oscila entre estas duas colunas. Muitos queremos apenas o crédito. Algumas igrejas não ajudaram Paulo e não foram ajudadas por ele. Dar e receber são duas faces de uma mesma moeda. Quem dá recebe.

5. Aprendamos a ser generosos  (vv. 16-17).
. não apenas uma vez — Generosidade é suprir a necessidade do outro, não importa a dimensão e a extensão dela. O generoso não controla o alvo de sua generosidade. Se somos generosos, podemos até ser cuidadosos para que nossos atos não alimentem atitudes impróprias nos necessitados. No entanto, se você quiser dar por meio desta igreja (por meio da contribuição financeira ou por meio de doações específicas de serviços, produtos e gêneros alimentícios), saiba que tudo é distribuído com generosidade (a sua generosidade) e critério (a inteligência posta a serviço da dignificação do ser humano).
. fruto — O fruto a que o apóstolo Paulo se refere é o sintoma, o interesse, a intenção de fazer o bem. Em certo sentido, para ele isto era o mais importante, porque haveria uma conseqüência natural (desta intenção), que seria a sua concretização.

6. Sejamos cheiros suaves para Deus (vv. 18-20)
. tenho tudo — Só pode entender que tem em abundância aquele que conta o que tem. Como nos ensina o clássico hino: contemos as bênçãos, se formos capazes. A maioria de nós aqui tem mais que o suficiente, mas a maioria de nós aqui vive como se fosse carente… carente daquilo que tem.
. cheiro suave. O bem que fazemos para o outro é cheio suave para Deus, tanto quanto quaisquer outras expressões de louvor. Como no tempo do Antigo Testamento, nossas boas ações em direção ao próximo são cheiros suaves a Deus (Gn. 8.21).
. sacrifício aceitável a e agradável — Este é o culto que agrada a Deus (Am 5.21). O que fazemos para o outro é cheio suave para Deus.
. meu Deus x nosso Deus — A bondade dos filipenses fez Paulo viver Deus como seu Deus, porque eles tinham suprido suas necessidades. Deus se lhe tornou pessoal. O Paulo chama a Deus de “meu”. Mais adiante, no entanto, ele o chama de “nosso Deus”. A indicação é clara: quando na igreja, as pessoas se importam umas com as outras, tornando-se todas cheiros suaves para Deus, Deus se tornou o Deus dessas pessoas. A igreja pode chamar, então, a Deus de “nosso” Deus. É possível que a experiência de muitos se esgote num Deus individual, que e fundamental para a fé e para a vida. No entanto, esta experiência deve ser cada vez de um número maior, e isto só acontece quando aquele que descobriu individualmente seu Deus se torna cheiro suave por meio de suas ações.

7. CONCLUSÃO
Fazer o bem é um estilo de vida. O egoísmo também é um estilo de vida. Qual é o seu?
Quem faz o bem é cheiro suave para Deus.
Sejamos, portanto, cheiros suaves para Deus.

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