Hebreus 13.20-21: O DEUS QUE APERFEIÇOA

O DEUS QUE APERFEIÇOA
Hebreus 13.20-21

(Da série BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS, 4

Pregado na Igreja Batosta Itacuruçá, em 26.9.1999  – noite

INTRODUÇÃO
Com esta doxologia, a quarta de nossa série, aprendemos a natureza do propósito de Deus para nossas vidas.

1. Somos alcançados pelo DEUS DA PAZ.
Nosso Deus tem como projeto de vida nos reconciliar com ele. Nós fomos feitos para viver em sua presença, mas recusamos. Esta recusa aconteceu num passado primordial e acontece num presente contínuo. Do mesmo modo, esta reconciliação tem uma dimensão pretérita (já aconteceu) e uma dimensão contínua (está sempre se processando, porque nós estamos sempre nos afastando).
Deus é a fonte da verdadeira paz. É comum desejarmos “muita paz” aos outros, mas precisamos saber que não há paz fora de Deus.

2. Somos alcançados por Deus através do SANGUE DO PACTO ETERNO.
Sabemos hoje, pela bioquímica, que o fluido vital do corpo é o sangue. No corpo humano, 1/13 é constituído de sangue. Assim, uma pessoa com 70kg tem 5.4kg de sangue. (Eu, por exemplo, tenho 7,2kg de sangue no meu corpo…) O sangue percorre todas as partes do corpo através do sistema circulatório. Aliás, só em 1628 descobriu-se que o sangue circula… O sangue desempenha um papel fundamental na luta contra as doenças, pois contém vários tipos de agentes que as combatem. Se alguma parte do corpo não tem sangue suficiente, essa parte será infectada e seu tecido morrerá. Toda vez que há uma suspeita de enfermidade em nosso corpo, uma das primeiras providências que se pede é um exame de sangue.
Na cultura primitiva, o sangue já era visto como contendo a vida. A partir daí, tornou-se símbolo da própria vida. Deriva disto a idéia do sacrifício em que se vertia sangue. Os sistemas sacrificiais do passado previa que o pecado só podia ser perdoado se houvesse derramamento de sangue. Algumas culturas antigas estabeleciam até o sacrifício, com sangue, de pessoas. Seja qual fosse o sistema, o sacrifício de animais tinha que ser repetido para o resgate de cada pecado cometido.
Na perspectiva cristã, o ser humano não precisa mais protagonizar qualquer tipo de sacrifício, muito menos sacrifício com sangue. O sangue que resgata foi o sangue de Jesus Cristo, que dispensa o derramamento do nosso. Este sangue não foi simbólico: foi sua própria morte por nós. Sua morte o mandou para o mundo dos mortos, privando-o da vida.
Este pacto, diferentemente do celebrado com o povo antigo de Israel, é eterno. Nada o removerá. De igual modo, quando o celebramos com Deus, nada nos afastará desta aliança, que nos une eternamente a Ele.

3. Somos alcançados pelos Deus que TORNOU A TRAZER DENTRE OS MORTOS A NOSSO SENHOR JESUS.
O pacto eterno tinha dois momentos reais: o primeiro era a morte, mas o segundo era a vida pela ressurreição. O batismo também tem dois momentos simbólicos: a morte (a cobertura do corpo pela água) e a ressurreição (a descobertura do corpo).
Se Jesus tivesse ficado no túmulo, ele seria apenas Jesus. Como ele saiu, tornou-se Jesus Cristo. Se tivesse ficado lá, seria servo. Como saiu de lá, tornou-se Senhor.
O Deus de paz, para nos reconciliar, procedeu ao supremo milagre de matar a morte e trazer Jesus da morte para a vida. Ele pode fazer o mesmo conosco.

4. Somos alcançados por Deus por meio de seu Filho, o GRANDE PASTOR DAS OVELHAS.
Este título indica a inteireza do ser de Jesus.
Lembremos que as ovelhas são animais naturalmente inseguros, frágeis e submissos. Elas vivem em rebanhos e geralmente seguem um líder, geralmente um carneiro. As ovelhas domésticas dependem dos seres humanos para sua proteção. Elas são muito tímidas. Até mesmo uma folha de papel voando pode assustá-las. Uma tempestade leva-as ao pânico. Um incêndio, por exemplo, pode destruir um rebanho inteiro porque elas ficam aterrorizadas demais para fugir.
Não é por acaso que a Bíblia escolhe as ovelhas para representar a condição humana. Por nós mesmos, somos inseguros, frágeis e dependentes. Inseguros por nós mesmos, quando nos entregamos ao grande pastor de ovelhas, sentimo-nos seguros na sua companhia; frágeis por nós mesmos, somos fortes quando cuidadas por Jesus. É por isso que nos fazemos submissos: sabemos que é melhor seguir a voz de Jesus do que as nossas próprias.
Jesus é o grande pastor porque não visa o seu próprio bem, mas o bem de suas ovelhas. Os pastores de ovelhas do campo são trabalhadores, que, em troca de uma remuneração, cuidam desses animais nascidos e criados para morrer. O pastor Jesus é o próprio Deus que graciosa e voluntariamente, sem nada em troca, morre em favor das ovelhas, para que elas vivam. No cristianismo, portanto, não são as ovelhas que morrem, mas o seu Pastor, Pastor que conhece as ovelhas pelos seus nomes.k

5. Este pastor NOS APERFEIÇOA EM TODA BOA OBRA.
Podemos pensar na perfeição, a partir do atletismo. Não existe o atleta perfeito, mas o atleta ideal não é só que o que vence as suas competições, mas supera os recordes anteriores, seus mesmos ou de outrem.
A perfeição pode ser um alvo que produz culpa. Neste caso, queremos ser perfeitos como os outros são (ou melhor, que nós imaginamos que são). Quando não conseguimos, sentimo-nos culpados. Não é esta maldição que o autor de Hebreus está anunciando. Ele está falando de bênçãos.
A vida cristã pode ser comparada (mal comparada, é verdade) ao atletismo. Precisamos, como os atletas, bater os alvos, superar as conquistas anteriores. A plenitude atlética consiste na superação. A plenitude cristã consiste na superação. Assim, perfeito é o cristão que se supera e não aquele que já conquistou tudo e não tem nada mais para conquistar.
A conquista do cristão está sempre adiante. Nossa maior conquista é entregar nossas vidas ao grande pastor para que Ele nos aperfeiçoe, nos faça saltar obstáculo, nos faça quebrar recordes. Fracassamos quando queremos nos aperfeiçoar a nós mesmos, colocando a nós mesmos como os próprios alvos ou como os próprios métodos. A verdadeira perfeição, portanto, é a entrega de nossas vidas ao aperfeiçoador de nossas vidas.

6. Só aperfeiçoados por Ele, PODEMOS FAZER A SUA VONTADE.
O aperfeiçoamento tem uma finalidade: fazer-nos viver de um modo agradável. Fazer a vontade de Jesus não é satisfazer os caprichos dEle. Aliás, Ele não os tem. Seu único capricho é procurar sempre o nosso bem. Sua vontade, pois, não visa seu bem, mas o nosso.
Ele nos equipa, pelo poder e pelos dons do Espírito Santo (At. 18; 1Co 12.7-11) para fazer a sua vontade.
 
7. Só assim colocados no caminho da perfeição, podemos permitir que Ele OPERE EM NÓS O QUE PERANTE ELE É AGRADÁVEL.
Quando o permitimos, Ele faz em nós o que Ele acha que é agradável (interessante, favorável) para nós. Eta Deus diferente! Ele quer que nos lhe prestemos sacrifícios agradáveis (ações condizentes com a nossa vocação/santificação); ao mesmo tempo, Ele faz com que nós tenhamos prazer em lhe fazer esses sacrifícios.
Podemos pensar nesta operação voltando à imagem do sangue. Esta operação é o sangue dele visitando todo nosso corpo. Se ele não estiver, não haverá vida. Se deixarmos que ele percorra apenas alguma parte de nós, a parte não alcançada vai adoecer (como acontece com a parte de nosso corpo sem a irrigação do sangue).

8. Toda operação dEle em nós se dá POR MEIO DE JESUS CRISTO.
Jesus é o agente da operação de Deus em nós. Afinal, Ele é o grande pastor, que deu a sua vida por nós. Ele tornou possível a aliança (de que estamos aqui falando).

9. A este Jesus DEVEMOS DAR GLÓRIA PARA TODO O SEMPRE.
Dar glória para todo o sempre é dar glória com toda a força de nosso fôlego.
Dar glória para todo o sempre é dar glória com a vida; isto é: é viver de tal modo que todos os nossos gestos glorifiquem a Jesus nosso Senhor.
Dar glória para todo o sempre é colocar Jesus Cristo como centro de nossas vidas.
Ele faz o que faz porque Ele é o poder de Deus personificado. É uma alegria e um privilégio servi-Lo.
Por isto, podemos dizer: “AMÉM!”.

***

DOXOLOGIA 4
(Hb 13.20-21)

Que o bom Deus, o Pai da paz, a quem graça e glória
queremos prazerosa e eternamente dar,
renove o pacto de sangue que para fora
da morte e dentro da vida vem nos lançar.

Que o Filho eterno Jesus, que fendeu a história
com grande ternura para nos pastorear,
em cada um de nós escreva desde agora
seu poema próprio para aperfeiçoar

e que o sopro do Espírito em nós opere
para que seja nossa só a sua vontade,

para que cada um tão só por sua graça espere
e prossiga na via da maturidade,

para que o itinerário da perfeição gere
em nosso corpo a marca da fidelidade.

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