Tiago 5.12-20: IGREJA, A NOVA COMUNIDADE

IGREJA: A NOVA COMUNIDADE
Tiago 5.12-20

(Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 20.2.2000, manhã.

Tiago 5
12 Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; seja, porém, o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em condenação.
13 Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.
14 Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor;
15 e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ao perdoados.
16 Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação.
17 Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e orou com fervor para que não chovesse, e por três anos e seis meses não choveu sobre a terra.
18 E orou outra vez e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.
19 Meus irmãos, se alguém dentre vós se desviar da verdade e alguém o converter,
20 sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.

 
1. INTRODUÇÃO
Estive muito preocupado esta semana: estaria eu, ao insistir na responsabilidade da conexão, colocando mais uma carga sobre as pessoas? Não estaria eu, por exemplo, sobrecarregando pais que já se preocupam com os filhos?  Não estaria pondo mais tristeza sobre os ombros de um cônjuge que luta sozinho para preservar seu casamento ou para levar o outro à fé?
Afinal, a vida já é dura demais para muita gente. No entanto, quero dizer: ao falar de conexão, quero falar de coisas duras, para tornar a vida melhor para cada um de nós.
Por isto, insisto, não como um fariseu colocando fardo, mas como um anunciador da Graça(eu sou um apaixonado pelo Deus da Graça), capaz de se manifestar nas situações concretas de nossa peregrinação. O Senhor da Graça prometeu que o que a Igreja ligar/desligar na terra será ligado/desligado nos céus (Mt 16.19).
Não quero que você receba esta mensagem (e as outras que já foram ou as que ainda virão) como um peso, mas como convite ao compromisso, que é fardo, sim, mas fardo leve e suave.
Leve e suave porque não o colocamos em prática sozinhos: temos o Espírito Santo a nos ajudar.
O texto de Tiago nos ajuda a entender um pouco mais esta promessa divina, que dá o tom da natureza da Igreja..

2. A IGREJA É UMA COMUNIDADE DESTINADA AO DESENVOLVIMENTO DE NOSSA NATUREZA RELACIONAL, MAS PODE SER TAMBÉM UM INSTRUMENTO DE SOLIDÃO
Antes de entrar no texto de Tiago, quero destacar esta verdade profunda.

Volta-e-meia, ouvimos que não há sentido mais na igreja. De fato, muitos a têm abandonado. No entanto, muitos a têm procurado. Por que? Porque querem se relacionar. Querem se relacionar com Deus. Querem se relacionar com outras pessoas.
Sabe quando a Igreja vai acabar? Você pode se cansar dela. Mas ela nunca vai acabar. Até você, se se afastar, um dia vai voltar. Sem igreja, sua vida não tem sentido, não por ela, mas pelo Deus que ela proclama, pela missão que ela desenvolve.
Precisamos, portanto, entender que cada um de nós vive para se relacionar.
Nós fomos criados para o relacionamento. A Trindade (como veremos num próximo sermão) escreveu isto em nossos genes. Não queira fugir disto. Você é escravo do relacionamento…
O impulso humano mais profundo é travar relacionamentos com outra pessoa.
O caminho mais seguro para superar nossos problemas e ser o que devemos ser é restabelecer a conexão com Deus e com a nossa comunidade.
A solidão, aqui solidão comunitária, é a uma tentação muito forte, especialmente depois de alguma, ou de uma série de, decepção. Há pessoas que entram mudas e saem caladas. Só abrem a boca para cantar (ou para ressonar…).

3. A IGREJA É A COMUNIDADE DOS QUE PODEM CURAR UNS AOS OUTROS, MAS TAMBÉM UM INSTRUMENTO DE ENFERMIDADE

3.1. Nossas atitudes diante dos problemas dos outros
Quando nos deparamos com pessoas com problemas, muitos de nós nos afastamos delas, seja:
– explicando os seus problemas
– censurando-as (mesmo rindo delas, embora detestemos que riam de nós)
– encaminhando-as a alguém
As atitudes dos amigos de Jó e dos que antecederam o chamado “bom samaritano” ainda são as de muitos de nós hoje.
Agora, mudemos de lado. É você que está com problemas. Você gostaria que alguma atitude dessa fosse tomada para com você. A mudança de lado (ver com o olho do outro ou a partir da perspectiva do outro) é essencial.

3.2. Somos capazes de ajudar
Lembremos que, dentro de cada pessoa com problemas (sejam eles quais forem), “há uma alma clamando por algo que só a comunidade pode proporcionar” (Crabb).
Somos capazes de ajudar uns aos outros. Deus incutiu em nós recursos extraordinários para curar as doenças da alma.
E que doenças são estas? São aquelas nitidamente provocadas e/ou evidenciadas pela falta de relacionamentos saudáveis, como narcisismo (gente que só pensa em si mesma), falta de propósito para a vida, ressentimentos, imaturidade. Essas doenças Deus pode, por nosso intermédio, resolver.
Não precisamos mais consultar especialistas? Há um vasto território para eles (e, graças a Deus, temos alguns aqui hoje presentes), como o tratamento daquelas doenças claramente decorrente de distúrbios sérios, como depressão e fobias. Essas enfermidades são com eles, mas mesmo elas requerem acolhimento.
O que estamos querendo afirmar é que, por meio do Espírito Santo, podemos ajudar outras pessoas rumo à maturidade. Desde que compreendamos os outros, podemos participar de um relacionamento que só o Evangelho possibilita.
No entanto, um relacionamento assim saudável depende da comunhão com Cristo. Só quando o perfume de Cristo nos perfumar, poderemos perfumar os outros.
Segundo Crabb, nossos relacionamentos curam quando nos concentramos em liberar o que é bom no outro. Há relacionamento saudável quando a vida de Cristo em nós comunica toda a vida de Cristo ao outro. Há comunhão quando as duas partes permitem que não mais vivam, para que Cristo viva, dizendo cada um delas: Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. (Gl 2.20)
Nossos relacionamentos serão terapêuticos quando espelharem a bondade de Cristo, tarefa de que se encarrega o Espírito Santo, presente em nós. Precisamos ativar no outro a bondade ainda não cultivada para enfrentar a maldade que já está ativada.

3.3. O poder do envolvimento
Os conselhos de Tiago são diretos:
13 Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.
14 Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor;
15 e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ao perdoados.
16 Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação.

O que é que cura? É o envolvimento. É a conexão.
. envolvimento na alegria (cante louvores, v. 13b). A alegria do outro é a nossa alegria e nossa alegria significa também gratidão a Deus pelo Ele fez.
. envolvimento na tristeza (aflição). A tristeza do outro é a nossa. Nosso compromisso é orar pelas pessoas aflitas.
 envolvimento na doença (orando, chamando os anciãos para orar e ungir). Quero tomar a unção com óleo num sentido mais profundo que um mero ritual. Ungir demanda precisamente este envolvimento (comprar/preparar, aplicar o óleo —  que tinha reconhecidas funções medicinais — ) não é uma oraçãozinha protocolar e pronto!
E por que a Igreja deve orar?
1. Porque é uma ordem divina.
2. Porque é um prazer ser e receber atenção um dos outros.
3. Porque Todos dependemos de Deus, que pode todas as coisas, inclusive pode curar.
4. Porque somos seres inteiros (não apenas seres biológicos, mas seremos bio-espirituais); nossas doenças não são excludentemente físicas ou espirituais. Há doenças relacionais; por isto, Tiago conclama à confissão dos pecados (pedido de perdão um ao outro). Quem não perdoa não vive e não permite que o outro viva. Enquanto você não perdoa, você está na mão do outro, embora possa até achar que esteja vencendo a guerra.

4.  A IGREJA É A COMUNIDADE DOS QUE PRETENDEM LUTAR PELAS ALMAS DOS OUTROS, MAS TAMBÉM DOS QUE SÓ SE PREOCUPAM CONSIGO MESMOS.
O autor apresenta o argumento final para a busca da conexão.
Para tanto, lança mão de uma hipérbole: quem se preocupar com o erro/fracasso/tristeza/doença do outro salvará da morte e será perdoado dos seus próprios pecados.
19 Se alguém dentre vós se desviar da verdade e alguém o converter,
20 sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.

Só haverá transformação quando a alma do intercessor se apegar à do intercedido (1Sm 18.1), à luz da experiência de Jônatas e Davi (perfidamente tomada como um relacionamento homossexual).
Ora, acabando Davi de falar com Saul, a alma de Jônatas ligou-se com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma (1Sm 18.1).
Jacó, na travessia do Jaboque, lutou com Deus (Gn 32.24) pela alma de Esaú. Quem lá leu a história reconhece que ali aconteceu um milagre (Gn 33.4). Podemos até concluir, da leitura, que Esaú, um homem obcecada pelo justo desejo da vingança, aceitou os presentes de Jacó, perdoou Jacó e deixou Jacó seguir seu caminho. Jacó perdoou Esaú, intercedeu por Esaú e pôde seguir o seu caminho.

5. CONCLUSÃO
De que Igreja você faz parte?

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